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ESPORTE TEM GÊNERO? Por Vagner Oliveira

Fim de mais uma edição da Copa do Mundo, aliado ao País em que ocorreu, resolvi falar do esporte no meio LGBTI, independente de qual esporte ou de qual local ele ocorre, fato é que a discussão sobre a homossexualidade no esporte - como se fosse algo à parte da sociedade - não se esgota e tem sido cada vez mais frequente.


Mais do que a dificuldade de se discutir as questões de gênero dentro do campo esportivo, os atletas gays enfrentam desafio ainda maior em sua área de atuação: a homofobia. Não se trata apenas de preconceito, mas de aversão ao tema, pouco combatido, e que se choca contra os preceitos do esporte, celebrado como espaço de inclusão e do encontro das diferenças.


Tanto que, até hoje, nem a FIFA, nem o COI, posicionaram-se firmemente contra manifestações homofóbicas e tampouco trazem o assunto ao debate. Pelo contrário. Quando o Mundial de 2022 foi dado ao Catar, um país em que ser homossexual é crime, o presidente da FIFA recebeu a sugestão de uma campanha contra a homofobia, assim como as realizadas para o combate ao racismo ou à xenofobia. Joseph Blatter se esquivou do assunto, afirmando que aquela era uma “questão menor” - em seguida, precisou pedir desculpas.


A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros chegou a enviar um ofício para a FIFA, em 2012, pedindo uma campanha contra a homofobia na Copa do Brasil, em 2014. Até hoje espera uma resposta sobre sua demanda.


Não foi diferente o que aconteceu este ano na Rússia, aliás com pedido de alerta pelas autoridades para que pessoas LGBTIs tomassem cuidado se fossem para lá para acompanhar a Copa. O assunto, relativamente adormecido junto à FIFA desde 2010, tirou o sono dos dirigentes do esporte olímpico. Desde que a Rússia aprovou a chamada “lei antigay”, que proíbe manifestações públicas a favor dos homossexuais e prevê até a prisão de ativistas, tornou-se, aos olhos do mundo, um local onde a discriminação é institucionalizada. Vale lembrar que homossexualidade era crime na Rússia até 1993.


O COI evocou a carta olímpica (que defende as liberdades individuais) e disse não ter como interferir na soberania de um país em decidir suas próprias regras. Uma coisa, porém, é apoiar a causa gay. A outra é revelar-se como um e conviver em meio à intolerância. “O esporte não é lugar de inclusão, pelo contrário, é excludente por natureza”, afirma o antropólogo Wagner Xavier Camargo, ligado à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), estudioso da relação entre esporte e gênero. “O esporte é uma instituição segregadora de gênero, em que não se admite a ideia que haja outro (gênero) que não seja o masculino, o dominante.”


Por isso, é raro que um atleta assuma, em público, sua orientação. Quando o faz, muitas vezes evita voltar ao assunto. Para Camargo, os esportistas, influenciados pelo ambiente em que atuam, apresentam muitas vezes uma “homofobia introjetada”. “O esporte, como meio masculinizado e heterossexual, cria essa questão. É a sensação de o que eles são é ‘errado’.”


No futebol (entre homens), o índice chega a zero no Brasil. Não há nenhum jogador em atividade assumidamente gay - e basta lembrar da polêmica do “selinho” de Emerson Sheik para se entender o motivo. Porém, aqui no Rio Grande do Sul, temos um time bem colorido e que está nos representando muito bem: Os Pampacats.


PampaCats
Parte do time dos PampaCats

Recentemente estive num evento realizado na sede da minha segunda casa, a OAB/RS aqui em Porto Alegre com o tema: “O Direito LGBT à prática esportiva”, de promoção dos PampaCats, o que me despertou ainda mais a vontade de escrever esse tema.


Evento PampaCats na OAB/RS.
Evento PampaCats na OAB/RS.

Com o slogan “PampaCats: O Esporte é para todos.”. A ideia de montar um time formado somente por garotos gays surgiu da necessidade de encontrarem um local onde pudessem praticar um esporte que gostassem muito, o futebol, sem que houvesse medo do desrespeito e da marginalização histórica que a comunidade LGBT sofre no ambiente esportivo. Outra questão importante criar um ambiente inclusivo, no qual independente da qualidade técnica dos jogadores todos pudessem jogar sem serem ou se sentirem repreendidos.


O time foi fundado com o incentivo dos times do Rio de Janeiro e de São Paulo que realizaram uma campanha chamando atletas interessados em fundar times de futebol gay por todo o Brasil. Com esse espírito, um grupo de “atletas” encarou o desafio e organizou o primeiro jogo de futebol do time, que aconteceu em 10 de agosto de 2017. Desde lá o número de “atletas” foi crescendo e semanalmente treinam.


O nome escolhido pelo time PampaCats faz referência ao Pampa Gaúcho, região de onde a maioria dos jogadores desse time residem.


A partir de então, o grupo foi ganhando força e pôde levar o esporte para a vida de muitos meninos que não se sentiam encaixados em times de futebol com jogadores predominantemente heterossexuais.


Em constante crescimento, os PampaCats estão em plena atividade e treinando bastante pois estão disputando diversos campeonatos, tais como a Copa Sul Gay, a Copa Gramado de Futsal Gay e a Champions Ligay com o time de futebol, e o Campeonato Porto Alegre de Voleibol 2018 e o GayPrix de Vôlei pelo time de vôlei.


O GayPrix de Vôlei 2018, que é organizado pelo próprio time e ocorrerá em Porto Alegre de 07 à 09 de setembro, contará com a participação de mais de 14 times de todo Brasil.

Além do futebol - atividade que deu origem aos PampaCats - a equipe, que agora é Poliesportiva, já conta com outras modalidades como vôlei, handebol, corrida e futebol feminino. São aproximadamente 250 atletas e muitos projetos ainda prometem sair do papel, trazendo novas modalidades à equipe.


A equipe, apesar de ter como missão a inclusão do público LGBT no mundo dos esportes, possui a modalidade corrida, que é aberta a qualquer pessoa, independente da orientação sexual. Além disso, o futebol feminino também está de portas abertas às gurias héteras, já que o machismo do ambiente esportivo atinge a qualquer mulher. O lema do time é a inclusão e o objetivo é não ser uma equipe seletiva. O grupo, que se identifica como uma família, busca promover inclusão, igualdade e respeito no universo esportivo, para isso conta com a força de nossa torcida chamada de PampaLovers, formada por pessoas que apoiam a causa e acreditam que o esporte é para todos.


O mascote, batizado de Pampitta, traduz a fofura, o amor e a alegria de ser um dos PampaCats. Pampitta ganhou um Baile em seu nome, que acontece periodicamente em Porto Alegre, já com duas edições de sucesso, e é aberto ao público.


O idioma, Pampanês já faz parte do vocabulário de todos os PampaJogadores. Para fazer parte desse encontro de esporte, amor e inclusão, basta se inscrever pelo site: pampacats.com.br/inscreva-se.html


Esse é o Brasil que eu quero: onde as pessoas podem ser o que são, fazer o que lhe faz bem, viver o que querem viver e amar ao outro como bem o que coração mandar.


Vagner Oliveira

Advogado - Especialista em Direito Homoafetivo / Pós-Graduado em Processo Civil

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