Por Luis Pissaia*
O distanciamento social, muito discutido desde o início da pandemia de 2020, está causando uma série de alterações no padrão de convivência da humanidade. Para contextualizar a ideia central do texto, destaco as duas frentes de impacto do distanciamento social. A primeira é aquela relacionada ao ato de afastamento, de amigos, familiares e colegas de trabalho, por exemplo. Já a segunda é alavancada pela aproximação entre pessoas que partilham de um relacionamento amoroso e que anteriormente não possuíam uma interação contínua. Logo, o destaque deste texto é a segunda frente de impacto, o relacionamento amoroso.
A pandemia que parece não ter fim, há meses obriga casais a conviverem no mesmo espaço, dividindo uma rotina completa de lazer, trabalho e relacionamento.
Observo muitos cenários em que a mesa de jantar se tornou o local de trabalho dos casais, frente a frente, duas pessoas discutem, criam e compartilham as construções laborais que por vezes se encontram no cenário de crise e reinvenção de funções. Após o trabalho, a sala de estar se tornar o espaço de lazer, o vídeo game divide espaço com a esteira de meditação, os pesos da musculação e a bola de futebol que insiste em bater na televisão.
Os espaços se confundem, entrelaçam a teia de vida e cotidiano que era traçado quase que individualmente e no meio externo ao domicílio e a relação. Dessa forma, a interação continua entre essas pessoas, por semanas e meses, enfrentando crises pessoais e por vezes financeiras, reflexo do mercado em retração, aflora conflitos que podem ser fatais para o momento.
Alguns indicadores já podem ser observados, como o aumento no número de divórcios legais e separações físicas de casais que firmavam décadas de convivência harmoniosa. Dessa forma, o que está acontecendo? O distanciamento social é o culpado? Não há respostas para o questionamento.
Sem respostas, busco justificativas que podem alcançar subjetivamente as causas das separações e os atritos nas relações amorosas. Acredito que o cenário instaurado pela pandemia, caracterizado por muitos autores como “momento de crise”, de fato é agressivo, que estimulado pela retração do mercado financeiro, causa a extinção de empregos e funções, além da consequente perda no poder aquisitivo das famílias.
Dessa forma, é compreensível que os ânimos estejam alterados, demonstrando tristeza e até mesmo a alienação sobre o sentimento de incertezas sobre o mundo. Com tudo isso, a linha de impacto encontra-se ladeada pelo espaço do “outro”, tênue e singela barreira que limita as individualidades e que formaliza os pactos amorosos que sobrepujam as diferenças observadas durante a construção do relacionamento.
Mas nem tudo é justificado e notório de atingir o relacionamento. Muitas são as saídas ou possibilidades de manter um relacionamento saudável e em constante construção do casal.
O primeiro ponto que deve ser observado no relacionamento são as necessidades de cada um. Sem dúvidas, as individualidades devem ser respeitadas, mas em um relacionamento, duas pessoas com bagagens diferentes podem entrar em conflito sobre as expectativas do momento, sendo necessário um toque de compreensão.
,O diálogo aberto sobre as necessidades e os acordos sobre a realização de cada um é a base de qualquer relacionamento e nesse momento de crise, é a linha que divide a continuidade ou a separação.
As emoções também estão afloradas e quando falamos sobre sentimentos, sensações e suas possíveis ações, é necessário ter autoconhecimento e compreensão sobre as trocas com a outra pessoa. Nem sempre vai ser o momento de conversar, de expor os sentimentos, respeitar o momento de digerir as informações é saudável e demonstra maturidade do casal ao compreender um ao outro e seus respectivos espaços emocionais.
Dessa forma, o espaço individual precisa receber destaque em meio ao relacionamento amoroso. Mesmo que duas pessoas compartilhem um espaço físico, as suas emoções, sentimentos e construções culturais merecem espaço e momentos de dedicação exclusiva. O respeito sobre o espaço de cada um é a base para construir a cumplicidade e o companheirismo na rotina.
Assim, é importante que o momento seja compreendido e os sujeitos inseridos no seu devido espaço. A construção de um relacionamento é árdua e custosa para ambos os envolvidos. Acredito que a pandemia seja uma prova, muitos sairão dela fortalecidos e outros com certezas sobre as diferenças e incapacidade de convivência. Mas, em ambos os cenários, a compreensão e o diálogo são a chave para o crescimento humano.
As aprendizagens devem preceder as experiências, independente do relacionamento construído. Não lhe ofereci respostas, e sim perguntas para embasar a uma reflexão necessária. Ficou com dúvidas? Fico à disposição para uma boa conversa.
Sobre o autor - *Enf. Me. Luís Felipe Pissaia - COREN/RS 498541
Mestre e Doutorando em Ensino
Especialista em Gestão e Auditoria em Serviços da Saúde
Docente Universidade do Vale do Taquari - Univates
Enfermeiro de Rel. Empresariais - Marketing e Relacionamento Unimed VTRP
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