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Barbie, uma centelha da sociedade contemporânea

Por Luís Pissaia


Em meio aos inúmeros cancelamentos, o filme Barbie permanece nos trending topics brasileiros, levando perto de 4 milhões ao cinema em menos de um mês do seu lançamento neste lado dos trópicos. O agito das mídias reforça a necessidade de discutir o filme, agora proibido em alguns países por diferentes motivos, todos os quais citam os excessos, de rosa, feminino, homossexualidade...


Barbie
Foto: Reprodução Twitter

Greta Gerwing, diretora da produção, afirma que o filme não é para crianças e sim para adultos. Não utilizo a faixa etária indicada como referência, mas sim a simbologia e a construção metodológica, quase distópica de um mundo rosa, a realidade paralela de Barbilândia. A boneca criada em 1959 por Ruth Handler deixa o imaginário das crianças para tratar de assuntos um tanto fora do escopo pensado na década de cinquenta. Emoções, bem-estar e qualidade de vida são os dramas que a Barbie de 2023 apresenta ao público.


Barbie em nada se assemelha aos desenhos lançados até então. Parece que a boneca cria vida para um grupo que havia começado a esquecê-la. Além de presentear os filhos com a boneca, essa geração de 30+ revisita a lenda para compreender a importância do autocuidado.

O filme apresenta diálogos profundos sobre o sentido da vida, os medos atrelados à vida humana, emoções próprias de uma vida pensante e reflexiva sobre a própria existência. Barbie e os demais personagens colocam em cheque aquilo que de mais valioso o ser humano busca, a autonomia e a individualização das causas.


Na mesma linha do Super Mario Bros, a Barbie cruza os mundos. Mesmo que a Barbilândia signifique um local seguro, um “cenário” construído para a vida ideal, aquela que é dita como a estereotipada, não encontra sentido em seguir. Não basta seguir o cenário, a boneca precisa ser. Possuir identidade e preservar a existência, isso é decisivo para a migração de mundos. Uma Barbie que possui sentimentos e encontra na realidade humana o sentido para os sofrimentos.


Desconstruída e determinada, a boneca transborda o feminismo contemporâneo, demonstrando os anseios de uma mulher madura e não de uma criança. A convicção em encontrar o sentido da vida transborda potência e, ao mesmo tempo desequilíbrio. O desequilíbrio pode ser encontrado nas emoções, mas também nos sinais de quebra com a Barbilândia, a relação que a boneca possui com a estética. O filme interroga os estereótipos e coloca contra a parede o tema da diversidade.


Talvez a diversidade seja a causa velada de tamanho preconceito com o filme. O mundo perfeito construído para a Barbie considera uma reflexão sobre a vida desejável, aquilo que de máximo esperamos durante toda a vida. A individuação abraçada com a diversidade torna os personagens únicos, destacando as fragilidades, imperfeições, medos e as emoções que se assemelham ao espaço humano.


A dependência emocional é um dos sentimentos mais trabalhados ao longo das dinâmicas que a obra se propõe. Partindo deste ponto, a trama lança a dificuldade na auto-aceitação sobre as mudanças que a vida impõe ao corpo humano, a necessidade de validação e aceitação nos grupos. A busca pela aceitação desmonta com a charada e torna o filme como uma ferramenta de autoconhecimento.


Barbie exemplifica a insegurança contemporânea, a construção de um modelo ideal humano que não pode ser atingido nem mesmo em um mundo distópico comandado por Barbies. O filme exige maturidade para compreender a proposta de reflexão sobre a maturidade do ser humano e os dramas corriqueiros relacionados à imperfeição.


Hoje, olhamos com espanto para uma boneca que fala de emoções, mas ela nos guia em um limiar de envelhecimento que inicia na infância, adolescência e agora em meio ao processo de maturação do organismo, sofre com os sentimentos e, sobretudo pela busca de dignidade.




Sobre o autor - *Enf. Me. Luís Felipe Pissaia  - COREN/RS 498541

Mestre e Doutorando em Ensino

Especialista em Gestão e Auditoria em Serviços da Saúde

Docente Universidade do Vale do Taquari - Univates 

Enfermeiro de Rel. Empresariais - Marketing e Relacionamento Unimed VTRP

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