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Aposentadoria - Por Vanessa Campos


De uns anos para cá meu número de pacientes com mais de 60 anos aumentou significativamente. A cada dia que atendo essas pessoas fico mais encantada e reflexiva. Tanta sabedoria! Imagina viver 86 anos. Me encanta imaginar o quanto se viveu, quantos projetos, quanto já se sentiu. A cada dia me encanto mais e mais. Pensei o seguinte: estaria de acordo com o meu destino se chegasse aos 90 anos lúcida, com quase todas as minhas habilidades físicas e mentais. Um pouco esquecida, obviamente, mas caminhando com auxílio da minha bengala, independente e faceira.


Certamente, nessa idade, vou querer estar numa clínica. Além de achar mais seguro, não quero dar trabalho para ninguém nessa vida. Não precisa ser a mais top, mas uma que tenha várias atividades, que eu tenha minhas parceiras de cartas, de filmes a tarde, do café com bolo, das conversas. Quarto privativo! Ter meu espaço e minhas coisas é fundamental para minha sobrevivência. Isso é importante! Hehehe. Só que esse não é o assunto de hoje, embora possa parecer.


Quero falar com vocês o seguinte: o que irei fazer na minha aposentaria! Outro dia eu estava assistindo um documentário e pensei: “Sério! É isso que vou fazer! Certo! Faz todo o sentido!” Minha filha já estará encaminhada na vida - pelo mundo provavelmente. Já terei atendido tanta gente, realizado todos os meus projetos, que são tantos, que posso até compartilhar alguns com vocês.


É tanta coisa que nem sei por onde começar. Escrever um livro, porque plantar um árvore e ter um filho, eu já fiz! Viajar para Macchu Pichu , Índia, Veneza. Comprar minha moto Harley Davison branca e sair voando as tranças por aí. Fazer um projeto social que possa acolher as mulheres com alguma vulnerabilidade social - que saem fugidas de casa com a roupa do corpo e seus filhos embaixo do braço - porque não aguentando mais os abusos físicos e/ou psicológicos cometidos contra essas pessoas.


Existem tantas coisas que ainda quero que ficaria aqui contando para vocês em longas linhas. Parece que vai faltar tempo nessa vida para realizar tudo o que desejo. Irei compartilhar um projeto íntimo. Do fundo da minha alma e que faz meu coração bater mais forte: gostaria de fazer parte da Cruz Vermelha, dos médicos sem fronteiras, ou seja lá o nome que for. Nem sei como se consegue trabalhar nisso, mas minha teimosia sempre me ajudou a conseguir (quase) tudo o que quero. Iria lá ajudar aquelas pessoas que vivem numa situação precária. Onde Deus (se é que ele existe) esqueceu. Crianças abandonadas pelo destino, que não tem água, nem nada para comer. Não tem o mínimo necessário. Sinto uma compaixão por essas pessoas!!! Cada vez que vejo algo sobre esses anjos voluntários penso a mesma coisa: “porque não sou eu? Tenho que fazer isso". Faz sentido para mim. Viveria meus últimos momentos produtivos e profissionais com muito amor e alma tranquila.


Trabalhei tantos anos somente com crianças e adolescentes. Uns 13, acredito. Vi, ou melhor, ouvi suas dores, angústias, sofrimentos, mas crianças são algo muito transformador. Elas têm uma capacidade de recuperação. Resiliência seria o termo técnico. Uma capacidade de ressurgir, ressignificar, se recuperar. É lindo ver os olhinhos brilharem novamente com esperança. É básico o que uma criança precisa: proteção, amor e cuidado. Se eu pudesse fazer um desejo nessa vida certamente seria que NENHUMA criança sofresse. Me parte o coração. Gosto de vê-las rindo, correndo, saltitando mundo a fora.


Aposentaria planejada. E que venham os anos para eu realizar tudo o que quero. Certo que ainda vão surgir outros tantos sonhos, desejos, projetos. Sou uma mulher de desafios. De metas, de movimento! Alguns não irei conseguir fazer, sei disso, mas o sonho que aquece minha alma eu não vou perder. O projeto que me dá motivação para vencer mais um dia. A esperança transborda o meu sorriso, pois eu nasci para sonhar!


Um beijo até semana que vem.

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