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A difícil tarefa de ser autêntico


Ser autêntico é assumir-se como é, com qualidades e defeitos, sem falsidades ou máscaras, independente da ideia ou opinião do outro. A autenticidade implica no reconhecimento de nossos defeitos, falhas, limitações e fracassos, ser você mesmo sem ser sempre o mesmo. Você imprime a autenticidade em uma conversa com amigos, ao se olhar no espelho ou demandamos a exigência de nosso reconhecimento.


vagner oliveira advogado
Vagner Oliveira

Após muitos anos de terapia e em contato com pessoas que me inspiraram, comecei a criar minha própria identidade, personalidade e automaticamente ser autêntico. Ao mesmo tempo que isso foi acontecendo fui percebendo o quanto é difícil nessa sociedade ser nós mesmos. Hoje eu me visto do jeito que quero, me maquio, corto meu cabelo... porém, sei o quanto isso vai gerar de comentários desagradáveis e tentarem fazer eu me sentir mal.


O modo de se expor, de agir e se comportar desperta admiração, confiança e faz com que os outros se sintam à vontade em sua presença, pois não se atém a preconceitos ou julgamentos que normalmente “travam” ou “encolhem” muitos tipos de pessoas, ao mesmo tempo se sentem na liberdade de opinar.


O autêntico é o que é, sem medo ou vergonha de ser. Mas nem sempre funciona de maneira tão positiva assim: a autenticidade, quando exagerada, pode até causar alguns conflitos ao ser confundida com arrogância, por exemplo.


Em um tempo em que reality shows estão na moda, costumamos ouvir com muita frequência a frase "o importante é que estou sendo eu mesmo". Essa necessidade de afirmação da própria autenticidade pode ser entendida como um sinal de alerta: por que é necessário, em nosso tempo, afirmar repetidamente a nossa autenticidade? Vejamos o que a frase quer dizer: se eu estou sendo eu mesmo, significa, por um rápido exercício de lógica, que é possível não ser si mesmo ou, que há pessoas sendo algo que não reflete o que de fato são (os falsos ou inautênticos) e que a autenticidade é um valor que precisa ser reconhecido e validado por outros.


Em uma sociedade que nos permite uma enorme variação em relação a identidades (podemos defini-las pela nossa sexualidade, trabalho, gostos pessoais, tendências políticas, preferências musicais, esportes, etc), a definição de autenticidade é facilmente confundida com a necessidade de diferenciar-se do comum. Ser si mesmo, portanto, implicaria em não ser o outro. E justamente aí está o problema desse tipo de compreensão, já que também somos resultado de uma série de identificações construídas ao longo de nossa história.


Ser autêntico é aquele sem máscara ou fachada e que apresenta de forma aberta os sentimentos e atitudes que emergem no momento relacional, sem falsidade, onde o sujeito se assume como é, com seus defeitos e virtudes. Não se trata de ser ou não cópia do outro, de estarmos ou não identificados com algo ou alguém, mas sim da capacidade de não trair a si mesmo.

Eu ouço em festas e eventos, momentos em que mais ouso com looks, como eu queria me vestir como você, como eu queria ter sua coragem... e acho tão triste isso, pois essas pessoas estão muito preocupadas com a opinião alheia, de como serão “julgadas” e a vida tá passando tão rápido, podendo ousar a qualquer momento, eu amo estar com pessoas autênticas. Claro que temos que cuidar a autenticidade com disputa.


Autenticidade requer, consequentemente, sinceridade, mas pode ser muito difícil porque isso implica em diferentes atos de afirmação da diferença. Mas repetir a diferença é algo muito complicado, pois, em determinado momento não sabemos mais se o que está sendo afirmado não é a cópia da cópia.

Se a autenticidade é medida ou sentida por aquilo que ela exprime de singular, manter-se na repetição e reafirmação de um modo de ser acaba se tornando uma forma falsa de copiar a si mesmo. Isso é muito comum em casos de artistas ou figuras públicas que se tornam conhecidas por algo de autêntico e, rapidamente, são vistos pela maioria como uma imitação falsificada do que já foram. Ou ainda, por uma coerção social: algo que em nossa sociedade tem sido abafado há muitos anos em nome da polidez. Deixamos de ser sinceros, de responder ou agir da forma que queremos, somos ou que achamos com medo de magoar, ferir ou ser criticados pelas pessoas. Em nome se uma suposta polidez social que nada mais faz do que criar máscaras em todos nós.


Em dias de virtualização das relações, quanto mais somos percebidos como verdadeiros, mais as pessoas tendem a se aproximar de nós ou não, eu e meus amigos que costumamos a ousar em roupas, sempre falamos que quando nos vestimos assim, raramente ficamos com alguém, a pessoa tem que se “garantir, ser segura de si para chegar na gente.


As redes sociais e propagandas vendem vidas perfeitas demais e padrões impossíveis de alcançar, por isso, quando nos enxergam como autênticos, chamamos a atenção. A pessoa autêntica transmite uma liberdade que também atrai. É importante lembrar, no entanto, que a autenticidade humana sempre deve tender ao bem-estar pessoal e do outro. Não adianta querer sair por aí magoando a todos em nome da autenticidade. Sempre ponha o bem em primeiro plano.


Ser autêntico exige um encontro trágico consigo mesmo. Isso porque um sentimento de autenticidade requisita igualmente um reconhecimento de nossos defeitos, falhas, limitações e fracassos. Isso não quer dizer que precisamos ter sempre a mesma opinião ou o mesmo estilo, não é necessário ser idêntico a si mesmo para ser autêntico. Embora possa parecer contraditório, não é preciso ser egocêntrico ou espalhafatoso para ter o sentimento de autenticidade. O reconhecimento da autenticidade se dá pela maneira como os atos fazem transparecer a harmonia com as intenções e valores pessoais.

Ser autêntico nos permite uma vida mais leve e com mais saúde; o que não significa dizer que devemos ser inconsequentes ou não tentar mudar algum aspecto nosso que seja indesejável ou incômodo. Significa que devemos nos aceitar a ponto de sabermos quem somos e, dessa forma, mudarmos a nós mesmos de uma forma congruente. Viver sem máscaras é um presente ao mundo e a nós mesmos. Além disso, nos permite não ser tão facilmente manipulados por interesses que nos sejam contrários e possibilita uma capacidade maior de elaborar planos e metas para um futuro que resulte em bem-estar e respostas mais eficazes frente a sentimentos de culpa e ansiedade em contextos sociais e mais facilidade em dialogar e respeitar diversidades. Isso permite um convívio mais harmônico com pessoas e discursos diferentes do seu, já que estar seguro em relação a sua forma de ser é também um modo de não ter de sentir-se invadido ou ameaçado por algo que não lhe seja idêntico.


A autenticidade pode fazer parte do dia a dia a partir da nossa necessidade constante de tomadas de escolha e de posição, ou seja, ser autêntico também é não se ausentar de si mesmo nas questões que lhe são diretamente pertinentes. Por isso a autenticidade acaba se tornando um ato político: estar presente e implicado nas decisões que efetivamente lhe são próprias. A maneira como nos vestimos, nos portamos, como nos endereçamos ao outro, como falamos, como reconhecemos alguém ou demandamos a exigência de nosso reconhecimento: tudo isso insiste em nos colocar em questão e é justamente aí que o desejo comparece como uma forma especial de autenticidade.


Viva, seja você, seja autêntico, isso deixará seu olhar com mais brilho e as pessoas verdadeiras e que realmente lhe amam se aproximarão de você pelo que você é, não pelo que aparenta ser.



*Vagner Oliveira - Advogado

Especialista em Direito Homoafetivo

Pós-Graduado em Processo Civil

Instagram: @eu.vagner

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